ENTREVISTA: Veganismo além dos mitos: saúde e novos sabores
- Dra.Andrea Pereira
- há 6 dias
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Entre dúvidas sobre proteína, equilíbrio e restrições, estilo de vida ganha espaço como escolha consciente e inspiradora
Julia Custódio 19/9/2025 - VIDA SIMPLES

O veganismo ainda é cercado de mitos: gente que acredita que veganos só comem alface, que vão ficar fracos sem proteína ou que a comida é sempre sem graça. Mas, na prática, esse estilo de vida vai muito além da dieta. Excluir produtos de origem animal do prato – e também do guarda-roupa e do dia a dia – é uma escolha que envolve saúde, meio ambiente e ética.
“Eu sempre fui uma criança que defendia o meio ambiente, gostava de levantar essas pautas. Quando descobri que o consumo de carne é uma das coisas que mais gastam água e emitem gases poluentes, isso mudou muito minha vida”, conta a bailarina Renata Schneider.
O veganismo, além de uma dieta, também é um estilo de vida que busca excluir todas as formas de exploração contra animais. Os veganos não comem nenhum alimento de origem animal e não utilizam produtos de origem animal (couro, lã, alguns cosméticos e medicamentos, etc.). Diferentemente do vegetarianismo, que é um regime alimentar que exclui todos os tipos de carne, peixe e aves, pode incluir ou não o consumo de ovos e laticínios.
Para Renata, a decisão veio cedo, ainda em Alto Feliz, pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul, onde churrascos eram tradição nos fins de semana. A descoberta de que era possível viver sem carne foi primeiro um choque, depois uma escolha de amor: “Foi por amor aos animais e também para cuidar do planeta”.
Com o tempo, ela percebeu que sua escolha individual reverberava.
“Quando faço aniversário, a alimentação vai ser 100% vegana. Sei que naquela noite as 40 pessoas presentes não comerão carne. Parece pouco, mas a longo prazo, o impacto é super significativo.”
Nem tudo foi simples no início. A maior resistência veio de casa. “Tive que fazer minha mãe entender que veganismo é uma escolha saudável. As pessoas acham que você vai ficar fraco, sem vitaminas. Mas uma pessoa vegana pode ser tão saudável quanto uma não vegana.”
A médica nutróloga Andrea Pereira, cofundadora da ONG Obesidade Brasil, confirma que muitos preconceitos vêm da falta de informação. “Em geral, as pessoas acreditam que quem segue essa dieta tem uma aparência menos saudável. Mas o veganismo não é só alimentação, é um estilo de vida que exclui qualquer produto de origem animal.”
“Não é verdade que veganos não conseguem consumir proteína suficiente. Com orientação, é possível, sim. A densidade proteica nos alimentos vegetais é menor, mas basta ajustar a quantidade e variedade”, esclarece a médica. No entanto, o estilo de vida vegano requer acompanhamento: ferro, zinco, vitamina D e B12 precisam ser monitorados em exames anuais.
A vida vegana de Renata também rende histórias engraçadas. “Já me ofereceram pastel de presunto e queijo, achando que não era carne. Também peixe, como se não fosse um animal. E a clássica pergunta: ‘Nem mel?’ Outra cena recorrente é quando alguém prova um bolo vegano, adora, repete, mas muda de opinião assim que descobre os ingredientes. “Percebo um preconceito, mesmo depois da pessoa ter gostado.”
Também é possível ter uma dieta rica em sabores dentro do veganismo, com vegetais e temperos variados, tudo é possível. “Sinto que meu paladar ficou mais flexível. Enquanto muitos se limitam a batata e cenoura, nós veganos exploramos berinjela, abóbora, abobrinha. Ganhei intimidade com a comida saudável. Hoje me sinto mais leve e feliz depois das refeições.”
Ainda assim, ela faz questão de reforçar: veganismo não é sinônimo de dieta equilibrada. Dá para comer só arroz e batata frita – o que não é nada saudável. Para encontrar a saúde no veganismo, é preciso buscar alimentos naturais, variados, como qualquer pessoa em qualquer outro regime alimentar.
Por isso, se pudesse desconstruir apenas um mito sobre o estilo de vida, Renata não hesita:
“Que vegano só come alface. Esse é o mais clássico. A comida vegana é extremamente bem temperada, explora novos sabores e pode ser tão calórica quanto qualquer outra. É preciso entender que não se trata de restrição, mas de transformação.”
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