top of page

Picolé de pipoca, cerveja de marshmallow: por que misturas inusitadas fazem sucesso no Brasil?

Inovação constante e combinações incomuns abastacem lançamentos de alimentos e bebidas do pais

Helen Carnieri - Valor Econômico


A cerveja Antonina, da Way Beer, tem sabor que remete à bala de banana da cidade paranaense. ​ Basta uma passada com um pouco menos de pressa no supermercado para perceber a quantidade enorme de lançamentos de novos sabores de velhos produtos. ​ Salgadinhos, refrigerantes, chocolates e biscoitos são os recordistas. As essências de pipoca, pistache, cebola e salsa, limão siciliano e cheesecake lideram as inovações, que lotam as prateleiras. ​


ree

Entre o público-alvo está a estudante de 23 anos Maria Eduarda Borges Pedro, moradora de Santa Maria (RS). "Normalmente eu compro coisas que eu já conheço, porém com um sabor diferente. ​ Sempre que eu vejo um macarrão instantâneo, um refri, uma bolachinha, qualquer coisa diferente, me desperta a curiosidade, e eu fico com muita vontade de provar." ​

Algumas apostas dos fabricantes são consideradas ousadas até por eles próprios, e chegam em edição limitada, num período de teste. O público brasileiro, porém, costuma surpreender. Não é raro o produto entrar para o portfólio perene da marca, devido à boa aceitação do novo sabor. ​

A ideia veio da fabricante da bala, após um lançamento anterior da Way Beer, a Banana Sultana, criada a partir de banana-passa, em parceria com a cervejaria Buxton, do Reino Unido. ​

"A resposta do público superou nossas expectativas e mostrou que havia espaço para ela no nosso portfólio permanente", conta Alessandro Oliveira, fundador e mestre cervejeiro da Way Beer. "Nossos testes de aceitação de um novo sabor começam com pequenos lotes produzidos em escala-piloto, que são apresentados em eventos ou em pontos de venda estratégicos. ​ A receptividade do público nesses momentos é fundamental para decidirmos se vale a pena escalar a produção e incluir o rótulo no portfólio." ​

"A inovação é um fator essencial no mercado de bebidas brasileiro. ​ O consumidor tem se mostrado cada vez mais curioso, exigente e aberto a novas experiências sensoriais. ​ Mas inovar não significa apenas criar sabores inusitados, e sim buscar conexões culturais e valorizar ingredientes regionais", diz Oliveira. ​

"Psicologicamente, somos estimulados desde cedo a associar a comida ao prazer, à comemoração e à afetividade", afirma Andrea Levy, psicóloga e cofundadora da ONG Obesidade Brasil. "Além disso, vivemos numa cultura onde experimentar é valorizado: seja com novos ingredientes, formas de preparo ou sabores inusitados, como cachaça de banana ou brigadeiro de capim-santo." ​

Ainda na seara da cerveja, a Bastards, de Curitiba, em parceria com os paulistanos da Juan Calota, uniu a cerveja forte do tipo triple IPA com marshmallows doces. ​ A alusão à comida de criança pode enganar, pois o resultado saiu com 9% de teor alcoólico (o normal é entre 4% e 6%), numa bebida intensa de lúpulos e baunilha. ​

"O nosso processo de criação se assemelha muito ao de um chef de cozinha. ​ A gente pensa primeiro no produto final, como o chef pensa no prato pronto, e depois vai desconstruindo até entender os ingredientes e o caminho pra chegar lá. ​ Na Max Mallow, queríamos uma cerveja com alto 'drinkability', teor alcoólico elevado, corpo e amargor limpos. ​ Para alcançar isso de um jeito inusitado, usamos marshmallow como fonte de açúcar, ao invés de depender só do malte. A Max Mallow é um small batch, um lote pequeno de produção sazonal. ​ A gente faz praticamente uma vez por ano, e ela sempre gera bastante expectativa no público. ​ Neste ano, ela será relançada no segundo semestre", diz Francisco Guernieri Seegmueller, cofundador da Bastards. ​

Nas prateleiras sem álcool, a inovação também é chave para manter-se em dia com o público, ávido por novos sabores. ​ Assim surgem desdobramentos de produtos já existentes, como a Fanta Caju, fruto originário do Nordeste brasileiro. ​

"Este lançamento reafirma nosso compromisso em oferecer experiências únicas e surpreendentes para o paladar dos consumidores e está disponível em regiões selecionadas do mercado brasileiro", diz o diretor de marketing da Coca-Cola Brasil, Ted Ketterer. ​

"O brasileiro é um povo muito curioso e aberto à experimentação, mas também muito regionalista. ​ Há sabores dos quais não abre mão, especialmente nas regiões com exemplos peculiares e que representam uma comida de conforto, familiar", diz Néli Pereira, pesquisadora e autora do livro "Da botica ao boteco". ​

Ela lembra que uma marca de macarrão instantâneo lançou recentemente os sabores cuscuz nordestino, pão na chapa e omelete, numa tentativa de se identificar com o gosto nacional, associar-se à comida de conforto e até ampliar vendas para outras ocasiões de consumo, como o café da manhã. ​

Outras apostas regionais incluem a água saborizada sabor gengibre, assim como o refrigerante de maçã-verde, ambos da marca paranaense Cini. " ​A inovação pode ser um sabor novo, uma embalagem especial ou até uma homenagem a alguma data marcante. ​ A ideia é criar algo único, que desperte aquela vontade de experimentar antes que acabe. ​ Além disso, é uma forma de testar novidades e entender as preferências do consumidor", diz Nilo Cini Júnior, diretor da marca. ​

A descrição cai como uma luva para Maria Eduarda, sempre pronta a experimentar as novidades do supermercado. ​ Ela cita como exemplo a dobradinha do biscoito Oreo sabor Coca-Cola e da bebida Coca sabor Oreo, lançamento em que as marcas brincaram com a ideia de "melhores amigas". ​ Maria só gostou da segunda opção, que trouxe um toque de baunilha ao refrigerante. ​

"Antes de chegar ao mercado, essa e outras edições passam por rodadas extensas de testes sensoriais e avaliações de aceitação, tanto quantitativas quanto qualitativas", afirma Ketterer, da Coca-Cola. "Para que um novo produto seja mantido em linha, ele precisa atingir determinados indicadores de desempenho, como vendas, recorrência de compra e engajamento do consumidor." ​

Os sabores de lanchinhos em alta no momento apelam ao exótico, como o pistache, ou repaginam algo tão simples como a pipoca. ​ Além da pipoca gourmet coberta com todo tipo de doce ou salgado, em pacotinhos de alta durabilidade, a essência de sabor "pipoca" agora é agregada a picolés, chocolates e até xaropes para drinques. ​

Ao lado do caramelo salgado, que está em todas, o pistache faz uma invasão: se antes ficava na seção de frutas.

Dra.Andrea Pereira, médica nutróloga e cofundadora da ONG Obesidade Brasil, explica: "Para o ser humano, a alimentação não se resume a uma necessidade fisiológica. ​ Ela é influenciada por fatores econômicos, sociais, religiosos, psicológicos, culturais e pelo marketing."


Comentários


Agendamento

Fixo:

Redes Socias

  • Instagram
  • Branca ícone do YouTube
  • Spotify - Círculo Branco
  • Facebook
  • X

WhatsApp:

Obrigado por se inscrever.

Endereço

Rua Tabapuã, 100

13.andar - Itaim Bibi

CEP: 04533-010, São Paulo, SP

bottom of page