Cerca de 40% da população adulta brasileira tem colesterol alto; estilo de vida saudável auxilia no controle e minimiza o risco de doenças cardiovasculares
Hoje a dra.Andrea Pereira falou sobre vários aspectos do colesterol para a Folha de S.Paulo. Leia a reportagem a seguir.
O desejo de emagrecer levou a comerciante Andréia Casarin, 51, ao endocrinologista aos 37 anos. O primeiro diagnóstico foi hipotireoidismo, doença que pode causar ganho de peso.
Os exames de sangue e as visitas ao consultório médico tornaram-se periódicos. Pouco tempo depois, aos 40 anos, Andréia descobriu que integrava uma estatística perigosa: ela estava entre os 40% da população adulta brasileira com colesterol alto.
"Na época, foi uma surpresa para mim. Eu não tinha caso na família, era magra e tinha uma alimentação legal", diz. "Quando descobri, o colesterol nem estava tão alterado, mas já fora da linha do normal. Então, a médica recomendou aumentar a atividade física, melhorar a alimentação e voltar em seis meses. Passado esse tempo, não melhorou e eu precisei tomar remédio."
"Colesterol não se adivinha. Não há como você olhar uma pessoa e acertar que ela tem colesterol. As pessoas ficam esperando ter sintomas para ir atrás desses marcadores. Isso não vai acontecer", afirma Andrei Sposito, diretor da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo).
O colesterol é um lipídio presente na estrutura das células e ajuda na produção de hormônios e vitaminas. Além disso, forma ácidos biliares —substâncias que atuam na digestão.
Há dois tipos de colesterol: o HDL (lipoproteína de alta densidade), que protege o coração contra doenças, e o LDL (lipoproteína de baixa densidade), ou seja, o "bom" e o "ruim", respectivamente.
O LDL em excesso eleva o risco para doenças cardiovasculares, como infarto e AVC (acidente vascular cerebral). Ele pode se acumular nas paredes das artérias, formar placas de gordura e causar obstrução em qualquer território arterial.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia considera um índice elevado de colesterol total acima de 190 mg/dL. O ideal no caso do HDL é acima de 40 mg/dL.
No caso do LDL, a recomendação segue de acordo com o risco cardiovascular do paciente:
Risco baixo: inferior a 130 mg/dL (baixo), inferior a 100 mg/dL (médio), inferior a 70 mg/dL (alto)
inferior a 50 mg/dL (muito alto).
Até hoje Andréia faz acompanhamento a cada seis meses. "Meu colesterol é daqueles que não baixa nem fazendo dieta e exercício", diz. Atualmente, o colesterol da Andréia fica entre 200 e 230 mg/dL.
"Estudos em cardiologia estão focando cada vez mais no tema ‘the lower, the better’, quanto menor o nível de colesterol, melhor será a vida desse paciente, sem eventos cardiovasculares", diz o cardiologista Fernando Menezes, do Hospital Albert Einstein, da Rede Dor, do Grupo Dasa e da BP – A Beneficência Portuguesa.
Como cerca de 70% do colesterol é produzido pelo corpo e os outros 30% são obtidos por meio dos alimentos, a necessidade de manter uma dieta equilibrada acaba reforçada.
Isso e a prática de atividade física conseguem reduzir o colesterol em torno de 10%. "Adotar uma dieta saudável, com fibras, combinações de diversos alimentos e praticar atividade física regular promovem o aumento da expectativa de vida e de saúde", diz Sposito.
"Alimentos com maior teor de gordura aumentam as taxas de colesterol e triglicérides. O azeite, a linhaça, os peixes, que têm muito ômega 3, são gorduras boas. A gordura é necessária no nosso consumo diário, ela faz parte da nossa alimentação. A gente chega a recomendar 20% a 25% de ingestão de gordura diária. O grande problema é que, muitas vezes, ingerimos gorduras demais", explica Andrea Pereira, médica nutróloga do Hospital Albert Einstein e cofundadora da ONG Obesidade Brasil.
Na opinião da nutróloga, o prato do brasileiro, mesmo do paulistano, de modo geral, tem um bom equilíbrio entre o carboidrato e a gordura.
Mas vida regrada, boa alimentação e peso ideal não são garantias de que o colesterol estará sempre normal —e nem toda pessoa acima do peso tem colesterol alto.
"O colesterol aumentado não é um marcador típico da obesidade. A obesidade é que contribui com isso", explica Sposito.
O que a obesidade faz, segundo o médico, é causar um aumento de triglicérides, "uma redução do HDL e transforma o LDL numa partícula ainda menor. Ela consegue fazer mais colesterol".
Os valores ideais de triglicérides podem variar de acordo com a faixa etária. Para maiores de 20 é desejável que o índice esteja menor do que 150 mg/dL (com jejum) e inferior a 175 mg/dL (sem jejum).
No final de 2020, após anos convivendo com o colesterol elevado, Andréia viu um aumento de triglicérides, alta que levanta o sinal de alerta para doenças cardiovasculares e pancreatite.
Menezes também alerta para o risco de obstrução nas artérias das pernas, que é a doença arterial periférica, no caso do colesterol alto.
"Você tem um baixo fluxo nas pernas e começa acometer a musculatura. Então, o paciente caminha e sente dor. É um sintoma que nós chamamos de claudicação. E a longo prazo isso vai causando obstrução, isquemia, falta de sangue no pé. E algumas vezes, em casos mais extremos, pode inclusive levar até a amputação", diz.
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2023/11/colesterol-alto-nao-depende-so-de-aumento-de-peso-e-pode-afetar-pessoas-magras.shtml
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