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Muitos Casos De Câncer Poderiam Ser Evitados Com Uma Boa Alimentação

O estudo, publicado três décadas atrás, causou impacto ao lançar luz sobre o papel da alimentação no desenvolvimento do câncer. A mudança fundamental ocorrida na vida do grupo de emigrantes japoneses era a adoção de uma outra dieta, a do seu novo lar. E a consequência era uma alteração pronunciada no risco de diferentes tipos da doença.

Algum tempo atrás, o câncer de próstata era diagnosticado anualmente em 14 de cada um milhão de japoneses. Era um índice bastante baixo, se comparado com o de países ocidentais. Mas algo surpreendente ocorria quando os japoneses emigravam. Um estudo revelou que a incidência multiplicava-se por 11 entre os que haviam se mudado para o Havaí, nos Estados Unidos. O mesmo ocorria com vários outros tipos de tumor. Fora de seu país, os japoneses tinham muito mais cânceres de cólon, reto, pulmão, mama, útero e ovário. Em compensação, a incidência no esôfago, no estômago e no colo do útero caía. Em todos os casos, a taxa se aproximava da verificada entre a população branca havaiana.

Veja quais são e como consumir alimentos que podem prevenir o câncer

O estudo, publicado três décadas atrás, causou impacto ao lançar luz sobre o papel da alimentação no desenvolvimento do câncer. A mudança fundamental ocorrida na vida do grupo de emigrantes japoneses era a adoção de uma outra dieta, a do seu novo lar. E a consequência era uma alteração pronunciada no risco de diferentes tipos da doença.

De 30% a 60% dos casos poderiam ser evitados

Hoje já não há dúvidas de que os hábitos alimentares estão relacionados ao desenvolvimento da doença. A Organização Mundial de Saúde (OMS), o Instituto Nacional de Câncer brasileiro (Inca), o Instituto Nacional do Câncer norte-americano e o órgão britânico de pesquisa em câncer coincidem em apontar a mudança da alimentação como uma das medidas mais importantes de prevenção. Estima-se que entre 30% e 60% dos casos poderiam ser evitados com um dieta apropriada.

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A preocupação aumenta diante do que alguns consideram uma epidemia da enfermidade. Nas últimas décadas, a incidência dos tumores cresceu e passou a atingir grupos mais jovens. Não por acaso, o avanço do câncer coincidiu com uma mudança sem precedentes na alimentação da humanidade. Ao longo de meio século, houve um incremento espantoso no consumo de açúcar e de alimentos processados pela indústria, que passaram a incluir doses maciças das perigosas gorduras trans e produtos químicos desconhecidos no passado. Em paralelo a isso, a agricultura e a pecuária se transformaram para ganhar produtividade. Na lavoura, disseminaram-se os pesticidas, enquanto os animais passaram a receber hormônios e outras fontes de alimento, para crescer mais rápido. Tudo isso mudou o que nos chega ao prato. E muitos especialistas acreditam que colaborou para nosso risco de ter um câncer aumentar.

O princípio da precaução

Meses atrás, Susan Levin, diretora de educação em nutrição do Comitê de Médicos pela Responsabilidade na Medicina, uma organização norte-americana, publicou com um grupo de colegas um artigo conclamando população, médicos e autoridades a adotar o princípio da precaução no que diz respeito à relação entre câncer e comida. Em entrevista a Zero Hora, ela usa o cigarro como comparação:

— Durante décadas, os indivíduos e os governos tomaram poucas medidas para reduzir doenças e mortes relacionadas ao fumo. Não podemos fazer o mesmo com a dieta e esperar 50 anos para prevenir o consumo de alimentos que induzem doenças. O princípio da precaução já é aplicado a toxinas em relação às quais ainda se acumulam evidências a respeito de seu prejuízo à saúde. Com base nessa abordagem, também deveríamos limitar carnes vermelhas, carnes processadas e laticínios. Um estudo publicado em 2013 analisou dados de 21 cânceres diferentes em 157 países e concluiu que a associação entre ingestão de produtos de origem animal e o câncer é tão forte quanto a relação entre o tabaco e o câncer.

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Além de evitar carnes vermelhas, gorduras trans e açúcar, que estão relacionados ao aumento dos casos de câncer, pesquisadores e autoridades recomendam a adoção de uma dieta equilibrada, com forte presença de frutas, verduras e legumes. Outro norte-americano ouvido por ZH, Tim Byers, diretor-associado de controle e prevenção ao câncer do Centro de Câncer da Universidade do Colorado, afirma que a dieta capaz de prevenir o surgimento de tumores não precisa ter nada de especial: seria a mesma indicada para reduzir o risco de outras doenças graves, como diabetes, derrames e doenças do coração.

— Ingerir menos calorias e consumir frutas, vegetais e grãos integrais reduz todas essas doenças, além de evitar a obesidade, que é um fator de risco para pelos menos 10 tipos de câncer, incluindo os de mama, cólon, esôfago, útero, rim e fígado — alerta Byers.

A atuação no corpo

Uma dieta com base em frutas, verduras, legumes e grãos tem sido tradicionalmente recomendada por médicos e autoridades como forma de reduzir o risco de desenvolver o câncer. A novidade é que uma enorme quantidade de estudos recentes identifica exatamente quais frutas, verduras legumes, grãos — e até mesmo carnes — devem ser consumidos para evitar a doença. Alguns deles emergem das pesquisas científicas com o status de anticancerígenos poderosos.

O princípio básico é que o desenvolvimento do câncer depende, com frequência, do fato de um microtumor encontrar condições favoráveis ou desfavoráveis para crescer. É aí que entram os alimentos. Alguns deles têm características que fomentam o câncer. Outros podem desacelerar o processo. Quando são estes últimos que predominam na dieta, a doença teria condições de ser contida e evitada.

Nos alimentos com esse potencial, os cientistas encontraram compostos fitoquímicos de propriedades antimicrobianas, antifúngicas, anti-inflamatórias e antioxidante que agem sobre os mecanismos biológicos agressores. Conforme as moléculas presentes em sua composição, esses alimentos conseguem eliminar toxinas cancerígenas, reforçar o sistema imunológico, brecar a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos necessários ao crescimento dos tumores), combater inflamações, bloquear a invasão de tecidos e induzir o suicídio de células malignas.

Entusiasmo sobre as frutas vermelhas

Entre os produtos citados com mais entusiasmo estão as frutas vermelhas, o cúrcuma (também conhecido como açafrão), o brócolis, o ômega-3, o chá verde e o tomate. A nutróloga da oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, dra. Andrea Pereira, observa que as pesquisas sobre o efeito preventivo de certos alimentos ainda é incipiente e gera controvérsia, mas os indícios de que eles podem trazer benefícios já justifica a inclusão no prato.

— Há trabalhos mostrando que a curcumina, presente na cúrcuma, diminui o risco de câncer. É uma coisa bem recente. Também foi demonstrado que o licopeno, encontrado no tomate e nas frutas vermelhas, tem ação preventiva. O chá verde entra na linha dos antioxidantes, que eliminam substâncias potencialmente danosas ao organismo, os radicais livres. Há trabalhos que mostram que funciona e outros que não funciona. Muitos estudos ainda estão sendo feitos, mas com base nos indícios existentes há certos alimentos que podem ter um papel importante na prevenção e que seria interessante introduzir na dieta — diz Andrea.

Importante mesmo depois da cura

Os hospitais já aproveitam em sua rotina as novas descobertas. O Albert Einstein tem um serviço para orientar familiares de pacientes oncológicos sobre a dieta capaz de reduzir o risco de câncer. A partir deste ano, serão oferecidas aulas sobre o assunto. O A.C. Camargo Cancer Center também oferece oficinas de culinária, com oferta de receitas que ajudariam na prevenção, abertas ao público em geral.

— Infelizmente, muitas pessoas só se dão conta da importância da alimentação depois do diagnóstico. Aí, procuram mudar de hábitos. Mas os estudos mostram que o papel mais importante da dieta é na prevenção — observa Ana Carolina Cantelli, nutricionista do A.C. Camargo.

Ainda assim, muitas pesquisas revelaram que uma mudança na dieta pode ter um papel crucial também para quem já é paciente de câncer, seja colaborando no tratamento ou reduzindo o risco de uma reincidência do tumor.

— Mudar os hábitos alimentares melhora o prognóstico do paciente. Ele tem uma melhor resposta ao tratamento, vive mais e tem menos chances de recidiva e de um segundo câncer. É uma coisa que frisamos muito com os pacientes, mesmo quando estão curados. Há estudos sobre o ômega-3, por exemplo, mostrando que ele ajuda no tratamento de quem já tem o câncer — exemplifica Andrea.

Fonte: Pioneiro – RS – Home – 03/01/2015

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